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The Stone Cutter and the Mountain Spirit – Um Conto Japonês

Baseado no conto de Andrew Lang: O cortador de pedras (1903), o jogo conta a história de um simples cortador de pedras e tudo que ele deseja se torna verdade. O jogo foi desenvolvido pelo estúdio brasileiro Philosophical School of Games e só por isso já vale a pena conhecer e valorizar o trabalho, mas além disso, se fosse definir o que é este jogo, eu diria: É o conto jogado!

Gameplay e Arte

O jogo tem uma gameplay bem simples, eu diria que se trata de um visual novel interativo onde nós acompanhamos uma história e somos os responsáveis por realizar todas as ações que o homem pensa. Além disso, o jogo oferece alguns puzzles e interação com outros personagens para saber mais sobre o mundo que se passa a história.

Além disso, para mim o ponto mais alto desse jogo é a arte, como a ambientação desse jogo é rica e nos passa a sensação de estarmos em uma era feudal japonesa. Em todo momento nós podemos verificar os traços da cultura japonesa, seja pela arte, pela arquitetura ou mesmo pelas roupas dos personagens, tudo deixa claro o cuidado que tiveram em tentar deixar como se fosse realmente uma história antiga sendo contada.

História

Para esse caso, eu resolvi fazer diferente, ao invés de contar o que gostei ou não da história, por se tratar de um pequeno conto, vou deixar ele aqui e irei colocar imagens do jogo nos momentos chave que se remetem ao que o texto está falando – sei lá, me veio isso na cabeça e gostei dessa ideia:

Era uma vez um cortador de pedras, que ia todos os dias a uma grande rocha na encosta de uma grande montanha e cortava lajes para lápides ou para casas. Ele entendia muito bem os tipos de pedras desejadas para os diferentes propósitos, e como era um trabalhador cuidadoso, tinha muitos clientes. Por muito tempo ele ficou muito feliz e contente, e não pediu nada melhor do que o que tinha.

Agora, na montanha morava um espírito que de vez em quando aparecia aos homens, e os ajudava de muitas maneiras a se tornarem ricos e prósperos. O cortador de pedras, no entanto, nunca tinha visto esse espírito, e apenas balançava a cabeça, com um ar descrente, quando alguém falava sobre isso. Mas estava chegando o momento em que ele aprendeu a mudar de opinião.

Um dia, o cortador de pedras levou uma lápide para a casa de um homem rico, e viu lá todo tipo de coisas bonitas, com as quais ele nunca havia sonhado. De repente, seu trabalho diário pareceu ficar mais difícil e pesado, e ele disse a si mesmo: ‘Oh, se eu fosse um homem rico, e pudesse dormir em uma cama com cortinas de seda e borlas douradas, quão feliz eu seria!’

E uma voz lhe respondeu: ‘Seu desejo foi ouvido; um homem rico você será!’

Ao som da voz, o cortador de pedras olhou em volta, mas não viu ninguém. Ele pensou que era tudo imaginação sua, pegou suas ferramentas e foi para casa, pois não se sentia inclinado a fazer mais nenhum trabalho naquele dia. Mas quando chegou à pequena casa onde morava, ele ficou parado de espanto, pois em vez de sua cabana de madeira havia um palácio imponente cheio de móveis esplêndidos, e o mais esplêndido de tudo era a cama, em todos os aspectos como aquela que ele invejava. Ele estava quase fora de si de alegria, e em sua nova vida a antiga logo foi esquecida. Era agora o começo do verão, e a cada dia o sol brilhava mais intensamente.

Certa manhã, o calor era tão grande que o cortador de pedras mal conseguia respirar, e ele decidiu que ficaria em casa até a noite. Ele estava um tanto aborrecido, pois nunca aprendera a se divertir, e estava espiando pelas persianas fechadas para ver o que estava acontecendo na rua, quando uma pequena carruagem passou, puxada por criados vestidos de azul e prata. Na carruagem estava sentado um príncipe, e sobre sua cabeça um guarda-chuva dourado era segurado, para protegê-lo dos raios do sol.

‘Oh, se eu fosse um príncipe!’ disse o cortador de pedras para si mesmo, enquanto a carruagem desaparecia na esquina. ‘Oh, se eu fosse um príncipe, e pudesse ir em uma carruagem dessas e ter um guarda-chuva dourado sobre mim, quão feliz eu seria!’

E a voz do espírito da montanha respondeu: “Seu desejo foi ouvido; um príncipe você será.”

E um príncipe ele era. À frente de sua carruagem ia uma companhia de homens e outra atrás; servos vestidos de escarlate e ouro o carregavam, o cobiçado guarda-chuva estava sobre sua cabeça, tudo que o coração podia desejar era seu. Mas ainda não era o suficiente. Ele ainda olhava ao redor em busca de algo para desejar, e quando viu que, apesar da água que ele despejava em sua grama, os raios do sol a queimavam, e que, apesar do guarda-chuva sobre sua cabeça, a cada dia seu rosto ficava mais e mais bronzeado, ele gritou em sua raiva: ‘O sol é mais poderoso do que eu; oh, se eu fosse apenas o sol!’

E o espírito da montanha respondeu: ‘Seu desejo foi ouvido; você será o sol.’

E o sol ele era, e se sentia orgulhoso de seu poder. Ele atirava seus raios para cima e para baixo, na terra e no céu; ele queimava a grama nos campos e chamuscava os rostos dos príncipes, assim como dos mais pobres. Mas em pouco tempo ele começou a se cansar de seu poder, pois parecia não haver mais nada para ele fazer. O descontentamento mais uma vez encheu sua alma, e quando uma nuvem cobriu seu rosto, e escondeu a terra dele, ele gritou em sua raiva: ‘A nuvem mantém cativos meus raios, e é mais poderosa do que eu? Oh, se eu fosse uma nuvem, e mais poderosa do que qualquer outra!’

E o espírito da montanha respondeu: ‘Seu desejo foi ouvido; uma nuvem você será!’

E uma nuvem ele era, e ficava entre o sol e a terra. Ele pegou os raios do sol e os segurou, e para sua alegria a terra ficou verde novamente e as flores floresceram. Mas isso não foi o suficiente para ele, e por dias e semanas ele derramou chuva até que os rios transbordaram, e as plantações de arroz ficaram na água. Cidades e vilas foram destruídas pelo poder da chuva, apenas a grande rocha na encosta da montanha permaneceu imóvel. A nuvem ficou surpresa com a visão, e gritou maravilhada: ‘A rocha, então, é mais poderosa do que eu? Oh, se eu fosse apenas a rocha!’

E o espírito da montanha respondeu: ‘Seu desejo foi ouvido; a rocha você será!

E a rocha ele era, e se gloriava em seu poder. Orgulhosamente ele se levantou, e nem o calor do sol nem a força da chuva puderam movê-lo. ‘Isso é melhor do que tudo!’ ele disse a si mesmo. Mas um dia ele ouviu um barulho estranho a seus pés, e quando olhou para baixo para ver o que poderia ser, ele viu um cortador de pedras cravando ferramentas em sua superfície. Mesmo enquanto ele olhava, uma sensação de tremor percorreu todo o seu corpo, e um grande bloco se quebrou e caiu no chão. Então ele gritou em sua ira: ‘Um mero filho da terra é mais poderoso do que uma rocha? Oh, se eu fosse apenas um homem!’

E o espírito da montanha respondeu: ‘Seu desejo foi ouvido. Um homem mais uma vez você será!’

E um homem ele era, e no suor de sua testa ele retornou novamente para seu ofício de cortar pedras. Sua cama era dura e sua comida escassa, mas ele tinha aprendido a ficar satisfeito com isso, e não desejava ser outra coisa ou outra pessoa. E como ele nunca pediu por coisas que não tinha, ou desejou ser maior e mais poderoso do que outras pessoas, ele estava feliz finalmente, e não ouvia mais a voz do espírito da montanha.

Bibliografia: https://etc.usf.edu/lit2go/142/the-crimson-fairy-book/5193/the-stone-cutter

Conclusão

O jogo é bem curto e em menos de uma hora é possível finalizá-lo tranquilamente. Apesar disso, ele traz uma temática interessante e profunda para refletirmos: a insaciável vontade de sempre querer mais. Sua narrativa é baseada em um conto que apresenta a história de um humilde cortador de pedras, que nunca está satisfeito consigo mesmo. Ele constantemente deseja ser outra pessoa, recusando-se a aceitar sua condição ou se colocar no mesmo nível dos outros, é como se para ele, é imprescindível estar acima de todos. Porém, quanto mais ele conquista, mais percebemos que está voltando a ser quem era no início da jornada, pois no fim, todos temos nossas forças e e fraquezas.

O conto que inspirou o jogo foi escrito por Andrew Lang, mas é, na verdade, uma adaptação de uma história do folclore japonês. Alguns elementos da narrativa acabam soando datados, até considerando que o texto foi escrito há mais de 100 anos. Por exemplo, o final, onde o protagonista retorna à mesma vida de antes, pode passar uma mensagem de conformismo, como se dissesse: “Não importa o quanto você experimente ou tente mudar, no fim, continuará sendo apenas um cortador de pedras.” Isso reforça uma ideia de “mudança imutável”, quase como se estivéssemos condenados ao status quo, por mais que tentemos desafiá-lo.

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